Aqui, continuam a mandar os que cá não estão...
Em condições normais, se a democracia funcionasse e o poder de decisão fosse atribuído apenas aos mais directos interessados, ou seja, aos residentes, no concelho de Montalegre, votariam entre 8500 e 9000 eleitores.Nestas circunstâncias, poderia concluir-se que a esmagadora maioria dos residentes, tinha votado e decidido o seu futuro, em termos de poder municipal, para os próximos 4 anos.Outra coisa não seria normal, quando a população diminuiu fortemente e ao contrário do que parecia, até há menos eleitores inscritos para as eleições autárquicas de 2005 (15165) do que havia nas de 2001 (15276).Votaram nas recentes eleições autárquicas mais de 10300 eleitores, o que significa que para além do normal e esperado, vieram votar mais 1300 a 1800 eleitores.Assim, não há sondagem que resista, não há ninguém que não dominando esta substancial bolsa de eleitores não residentes, possa ganhar eleições.Por isto, nem Adelino Bernardo nem qualquer outro poderia ganhar estas eleições.Sem uma estrutura que com os cadernos eleitorais nas mãos possa identificar as famílias, conhecer o paradeiro dos eleitores inscritos e meios para os contactar, aliciar e transportar, ninguém ganhará eleições autárquicas em Montalegre.O mérito não está na obra, não está na capacidade, nem tão pouco nas promessas eleitorais.O mérito está em saber usar os meios que se têm à mão e uns têm-nos e outros, por muito que se esforcem não têm.Ainda, passados que foram alguns dias, se vê estampado no rosto de muitos, não apenas o desânimo, mas também a estupefacção por um resultado que ninguém esperava, excepto aqueles que desde há alguns meses vinham trabalhando para que a decisão eleitoral fosse dos outros e não dos de cá.Em Montalegre, cada vez mais, mandam os que cá não estão e não aqueles que cá sofrem e que gostariam de ver a mudança.No fim-de-semana das eleições, Montalegre parecia um vulgar dia do mês de Agosto. Apenas tinha uma diferença: vimos muita gente que já não víamos há muitos anos.Isto leva-nos a pensar se alguns não estarão já recenseados nas localidades onde vivem, bem como se muitos dos emigrantes não estarão também recenseados nas embaixadas e consulados dos países onde trabalham, os que os colocaria numa situação ilegal.Assim, Adelino Bernardo não ganhou as eleições e Fernando Rodrigues não as perdeu. No entanto, acredito que sei qual dos dois terá mais razões para estar de bem consigo próprio. A.A.
Retirado do jornal "o Povo de Barroso" edição do 15/10/2005